A agricultura familiar é responsável por grande parte dos alimentos saudáveis que chegam à mesa, sendo pilar essencial da segurança e soberania alimentar. Nesse contexto, a mecanização adequada tem se mostrado um fator estratégico para a sustentabilidade econômica, social e ambiental da produção. Longe da lógica dos grandes maquinários, voltada à monocultura e ao uso intensivo de insumos químicos, a mecanização para a agricultura familiar busca reduzir a penosidade do trabalho, otimizar o tempo de manejo e garantir a eficiência produtiva com menor impacto ambiental.
Os equipamentos de pequeno porte, de multiuso e versáteis apresentam vantagens expressivas: operam em áreas menores, adaptam-se a diferentes condições de solo e relevo, consomem menos combustível e demandam manutenção simplificada. Além disso, a mecanização adequada pode ser um elemento fundamental para a inclusão produtiva das mulheres, ao reduzir o esforço físico exigido em diversas etapas do trabalho agrícola.
Na perspectiva da Secretaria de Mulheres da Unicafes Brasil, desenvolvimento de tecnologia também é política pública de cuidado: ao liberar tempo, proteger a saúde e valorizar o saber produtivo das mulheres, a mecanização apropriada contribui para igualdade de gênero e justiça social no meio rural. Para isso, é fundamental que o desenho, a pesquisa e a difusão dos equipamentos considerem as demandas específicas das mulheres agricultoras, com sua participação direta em todas as etapas de desenvolvimento e teste das tecnologias.
Troca de saberes
A Unicafes destaca que a mecanização deve ser compreendida como parte integrante da transição agroecológica. A organização considera que o uso coletivo de máquinas e equipamentos, por meio de suas cooperativas é uma estratégia fundamental para democratizar o acesso à mecanização e fortalecer o cooperativismo solidário. No entanto, nos sistemas de base agroecológica, é indispensável atentar para o risco de contaminação cruzada entre propriedades, especialmente quando equipamentos circulam entre áreas com diferentes práticas produtivas — algumas com uso de agrotóxicos e outras em transição ou certificação orgânica. Assim, a ampliação da política pública de apoio à mecanização da agricultura familiar, através da facilitação do acesso ao crédito rural, segue central nesse contexto, para garantir acesso amplo a máquinas adequadas, de pequeno porte, multiuso e compatíveis com a produção agroecológica.
O Projeto Produção de Alimentos Agroecológicos pelo Cooperativismo Solidário - Da Terra à Mesa, realizado com apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDAF) e executado pela Unicafes Brasil, atua diretamente nesse sentido. O projeto fomenta o acesso a equipamentos adequados à realidade da agricultura familiar, demonstrando o potencial destes e promovendo a troca de saberes entre cooperativas, agricultores (as) e instituições de pesquisa, ao mesmo tempo, divulga e facilita a ampliação do acesso destes, através do Pronaf.
Ao impulsionar soluções que respeitam o território, o meio ambiente e a equidade de gênero, o Projeto Da Terra à Mesa reafirma o compromisso do Sistema Unicafes e do MDAF com um modelo de desenvolvimento rural justo, solidário e agroecológico, no qual a mecanização apropriada é instrumento de autonomia, dignidade e sustentabilidade para as famílias agricultoras.
Maíra Lima Figueira – Assessora do Projeto Produção de Alimentos Agroecológicos no Cooperativismo Solidário – Da Terra à Mesa